A feminilidade da serpente

Subversão, simbologia e sugestão no contexto finissecular

Autori

DOI:

https://doi.org/10.13135/2384-8987/5801

Abstract

Não parece exagerado afirmar ter sido a serpente um dos animais cuja simbologia menos se alterou ao longo da história do imaginário ocidental. Conhecido como “serpente”, “cobra”, “víbora” ou “áspide”, de uma forma ou outra, esse réptil ganhou seu espaço, talvez pelo medo que é capaz de suscitar. Visto sempre com desconfiança, desde o Éden bíblico, banalizou-se como símbolo do mal em diferentes culturas e épocas. Na conjuntura finissecular, no entanto, adquiriu conotação sutilmente divergente, pois, mesmo quando designava algum aspecto negativo, este, a partir da subversão de valores comuns à literatura da época, pode se tornar positivo (como a visão da morte como algo desejado, por exemplo). No caso, a serpente passou a sugerir o feminino e, mais especificamente, a feminilidade, sugerindo mistério, perigo, sensualidade. Não por acaso foi uma das imagens animalistas mais utilizadas por Charles Baudelaire, tão preocupado como era em representar o feminino de forma transgressora e menos usual. Por consequência, tornou-se imagem importante para poetas simbolistas e decadentes que buscavam nas “flores” baudelairianas imagens nas quais se inspirar, e, dentre estes, nomeadamente, para os autores de língua portuguesa, como Camilo Pessanha, Eugénio de Castro e Cruz e Sousa, em cujas obras abundam as sinuosas figuras ofídicas. A partir desse contexto, o presente trabalho pretende mapear a presença das serpentes na poesia finissecular em contextos francófonos e, particularmente, lusófonos, bem como analisar em qual medida houve renovação ou continuidade da tradição na forma como foi representada nesse período, em contraste com a forma como se cristalizou no imaginário das poéticas anteriores.

Não parece exagerado afirmar ter sido a serpente um dos animais cuja simbologia menos se alterou ao longo da história do imaginário ocidental. Conhecido como “serpente”, “cobra”, “víbora” ou “áspide”, de uma forma ou outra, esse réptil ganhou seu espaço, talvez pelo medo que é capaz de suscitar. Visto sempre com desconfiança, desde o Éden bíblico, banalizou-se como símbolo do mal em diferentes culturas e épocas. Na conjuntura finissecular, no entanto, adquiriu conotação sutilmente divergente, pois, mesmo quando designava algum aspecto negativo, este, a partir da subversão de valores comuns à literatura da época, pode se tornar positivo (como a visão da morte como algo desejado, por exemplo). No caso, a serpente passou a sugerir o feminino e, mais especificamente, a feminilidade, sugerindo mistério, perigo, sensualidade. Não por acaso foi uma das imagens animalistas mais utilizadas por Charles Baudelaire, tão preocupado como era em representar o feminino de forma transgressora e menos usual. Por consequência, tornou-se imagem importante para poetas simbolistas e decadentes que buscavam nas “flores” baudelairianas imagens nas quais se inspirar, e, dentre estes, nomeadamente, para os autores de língua portuguesa, como Camilo Pessanha, Eugénio de Castro e Cruz e Sousa, em cujas obras abundam as sinuosas figuras ofídicas. A partir desse contexto, o presente trabalho pretende mapear a presença das serpentes na poesia finissecular em contextos francófonos e, particularmente, lusófonos, bem como analisar em qual medida houve renovação ou continuidade da tradição na forma como foi representada nesse período, em contraste com a forma como se cristalizou no imaginário das poéticas anteriores.

Biografia autore

Bruno Anselmi Matangrano, Universidade de São Paulo (USP)

Bruno Anselmi Matangrano é pesquisador, editor e tradutor. Bacharel em Letras (português-francês), Mestre e Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), suas pesquisas se concentram sobre a literatura e a arte simbolista e decadentista, produzidas no Brasil, em Portugal, na França e na Bélgica, assim como sobre as vertentes do insólito ficcional, em geral. Dedica-se também às teorias e representações dos animais e dos monstros na literatura e em produções audiovisuais. Foi bolsista FAPESP de Iniciação Científica entre 2008 e 2011, e de Mestrado entre 2011 e 2013. No Doutorado, sua pesquisa foi apoiada pelo CNPq entre 2014 e 2018, que também concedeu bolsa de Doutorado Sanduíche no Exterior, onde foi efetuada pesquisa junto à Universidade de Lisboa, entre 2015 e 2016. É membro dos grupos de pesquisa POEM (Poéticas e Escritas da Modernidade), da USP, e Nós do Insólito: vertentes da ficção, da teoria e da crítica, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), assim como do LÉA (Lire en Europe Aujourd'hui), rede de pesquisa internacional da Universidade de Lisboa (FLUL) e do Laboratório de Estudos de Poéticas e Ética na Modernidade (LEPEM), da USP. Desde 2012, é coeditor da revista científica Non Plus, do Programa de Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês da USP, tendo sido coeditor da revista Desassossego, do Programa de Literatura Portuguesa da USP, entre 2012 e 2019, atuando também como parecerista de vários outros periódicos. Já publicou vários artigos, traduções e contos em revistas, jornais e obras coletivas e organizou coletâneas de contos de literatura brasileira contemporânea policial e fantástica. É autor do livro Contos para uma noite fria; (Llyr Editorial, 2014) e, com Enéias Tavares, de Fantástico Brasileiro: o insólito literário do romantismo ao fantasismo (Arte & Letra, 2018), resultado do projeto de pesquisa e extensão "A História do Insólito na literatura brasileira", da Universidade de Santa Maria (UFSM), do qual também deriva uma exposição itinerante.

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Pubblicato

2021-06-30

Come citare

Anselmi Matangrano, B. (2021). A feminilidade da serpente: Subversão, simbologia e sugestão no contexto finissecular. RiCOGNIZIONI. Rivista Di Lingue E Letterature Straniere E Culture Moderne, 8(15), 63–86. https://doi.org/10.13135/2384-8987/5801

Fascicolo

Sezione

CrOCEVIA

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